Apresentação
O Instituto Espírita Allan Kardec e Lar Ceci Costa - IEAKLCC – foi
fundado em 1938, pelo sonhador e idealista Professor José de Barros Lins. Nesta
época utilizava um galpão onde hoje funciona o nosso Espaço Cultural apresentações
culturais como peças teatrais e projeções cinematográficas. O IEAKLCC está
localizado no Bairro de Salgadinho, vizinho a Sítio Novo, ambos remontam aos anos 30, abriga grande parte da população em áreas invadidas, insalubres,
endêmicas, situadas em várzeas e sujeitas a alagamentos, carentes de
infraestrutura e atendimento de serviços públicos. Por outro lado, detém uma
grande bagagem cultural, onde a comunidade se faz presente em todos os
movimentos sócio culturais da cidade de Olinda, Patrimônio Histórico e Cultural
da Humanidade.
Atualmente o Lar Ceci Costa atende crianças e adolescentes de 06 a
13 anos, em situação de vulnerabilidade e risco social, promove a integração
com suas famílias. Atua sempre no contra turno escolar, buscando sempre uma
atuação preventiva contra as violações de direitos individuais e coletivos.
O nosso fundador é fonte de inspiração e o compromisso com a
cultura é baseada no que preconiza o Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA,
quando em seu Art. 53 e 15, propõe que toda criança e adolescente tem direito à
Educação, à Cultura, ao Esporte e ao Lazer, assim como direito à Liberdade, ao
Respeito e à Dignidade.
Nossa proposta pedagógica encontra respaldo
teórico na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - LDB 9.394/96, a
Constituição Brasileira, no Estatuto da Criança e do Adolescente e no disposto
nos Parâmetros Curriculares Nacionais – PCN. Abrange a disseminação, transferência
e recepção da informação estética ou cultural, concebida como uma prática
social, geralmente prazerosa, de interação sensorial, emocional e racional.
O IEAKLCC busca incessantemente a
atualização e benfeitorias para qualificação no atendimento, reconhece que a
formação de educadores e pessoal de apoio, numa leitura crítica de textos e do
próprio mundo são fatores críticos de sucesso.
A metodologia é vivenciada em Espaços
denominados Interativos que utiliza técnicas e vivências adequadas, proporcionando
a interação entre o sujeito e o conhecimento, o sujeito e o seu grupo e o mesmo
com instituição, elaborando e reelaborando conceitos e procedimentos,
alicerçando uma tomada de atitude pautada no conhecimento internalizado e
compreendido, e expressado na postura assumida diante de si da sociedade e do
meio ambiente.
Os Espaços
Interativos dedicados a Danças Regionais, Canto Coral, Flauta, Artes Manuais,
Argila, Incentivo a Leitura, Materiais Recicláveis, Cidadania/Letramento e
Informática tem um papel fundamental como eixo canalizador das ações e
produções, solidificam interações internas e externas, percepção do contexto
proposto pelo nosso Projeto Político Pedagógico, além de possibilitar aos
parceiros, familiares e sociedade o acompanhamento das atividades e ações
desenvolvidas, seu comprometimento, resgate de valores humanos, melhorando a
convivência e a interação no seu contexto sociocultural e ambiental.
As manifestações populares da cultura
pernambucana, tão presentes em Olinda e Recife são tratadas como oportunidades
de atuação nos eixos estruturantes, pois tanto movimentam a economia do bairro
como a integração com os currículos explorados nas escolas frequentadas pelas
crianças, destaque para os ciclos:
Carnavalesco: Boi de carnaval, Caboclinho,
Frevo, Maracatu, Samba;
Junino: Ciranda, Coco, Forró, Baião,
Maxixe, Xote, Xaxado, Quadrilha;
Afro-brasileiro: Afoxé, Capoeira, Maculelê,
Orixás, Samba de Roda;
Natalino: Bumba-meu-boi (Pernambuco e
Maranhão), Cavalhada, Galante, Guerreiro, Pastoril, Reisado.
PROFESSOR JOSÉ DE BARROS LINS*
Professor
Barros Lins, como era conhecido, nasceu na cidade de Atalaia, Alagoas, a 29 de
abril de 1905. Era filho de José Argemiro Lins e Clotilde Barros Diniz.
Quando
tinha a idade de dois anos, desencarnou o seu pai, ficando órfão tão cedo. Este
talvez tenha sido um forte motivo para marcar toda a sua existência e, ao
atingir a idade adulta, procurou dedicar-se inteiramente ao amparo de crianças
órfãs ou abandonadas.
Embora
não tenha cursado nenhuma Faculdade, era ele um perfeito conhecedor de mínguas,
música e também de Obras Espíritas. Isto, de certa forma, facilitou a grande
tarefa que tinha em mente: “Fazer aos outros aquilo que gostaria que lhe
tivessem feito quando criança.”
Inicialmente
fundou uma escola primária assim denominada: Escola Allan Kardec, onde
ministrava aulas de alfabetização gratuitas às crianças pobres do bairro.
Fascinado
com o progresso de sua tarefa, decidiu estender um pouco mais longe a
assistência que pretendia dar aos necessitados e, com a colaboração de amigos e
de sua esposa Maria do Carmo Lins, fundou várias escolas a serviço da Doutrina
Espírita e, por volta do ano de 1939, radicou-se em Salgadinho, inicialmente a
Rua da Salina, 812, onde fez surgir uma casa de taipa com o dístico: Instituto
Allan Kardec e Orfanato Ceci Costa. Era uma pequena casa dividida em duas
salas. A da frente era a escola (o Instituto), a segunda sala era para alojar os
primeiros órfãos (era o Orfanato).
Embora
localizado em zona paupérrima, o Instituto Allan Kardec e Orfanato Ceci Costa,
tiveram momentos dos mais felizes e a sua inauguração surgiu como um farol nas
trevas para a vida do bairro. O primeiro órfão foi Edgar Eloi da Hora, trazido
da cidade de Canhotinho e outros foram chegando e, assim, José de Barros Lins
viu concretizado o seu sonho.
Em
1944 houve uma grande invernada que chegou a forçar a retirada de todos os
órfãos para a casa de um amigo, o Sr. João Patrício, um dos grandes
colaboradores da época; aliás, o único que se prontificou a ajudá-lo naquelas
circunstâncias. Nessa época já se estava em negociações com o terreno onde
atualmente se encontra o Instituto Allan Kardec e Lar Ceci Costa e o fato,
apesar de constrangedor, muito contribuiu para acelerar a construção de uma
ala, a fim de abrigar as crianças atingidas por aquela calamidade.
As
condições foram aos poucos melhorando e novos colaboradores foram surgindo.
Aumentou-se o número de sócios e o fato de construir um grande prédio, mais
parecia um sonho irrealizável. Impossível descrever todos os colaboradores.
Pessoas de todas as camadas sociais deram ajuda. A esta altura, alguns dos
antigos colaboradores se afastaram, porém outros se .......
Oscar Austregésilo da Costa, Dr.
Aníbal Ribeiro e outros.
Apenas
foram citados os elementos que compareciam ou atuavam com mais freqüência em
determinados setores. A construção seguia de maneira vagarosa e sempre e
somente aos domingos tinha um avanço maior, devido ao comparecimento de maior
número de colaboradores que trabalhavam, inclusive os órfãos que faziam os
serviços de ajudantes.
Apesar
dos sacrifícios, a obra pode ser concluída em fins de 1944 e no dia 25 de
dezembro daquele ano deu-se a sua inauguração, à qual compareceram várias
autoridades, pessoas amigas e simpatizantes da Doutrina Espírita.
José de Barros
Lins permaneceu à frente de sua grande obra durante 20 anos, lidando sempre com
muito amor e carinho para com aquelas que lhe foram entregues para sua
proteção. Ministrava aulas de músicas e também de marcenaria e carpintaria e
com o produto da venda dos objetos fabricados nas oficinas da Instituição e
contribuições de sócios e pessoas abnegadas, obtinha com dificuldade o sustento
para os seus protegidos. Mesmo assim pode ver o engrandecimento de sua obra que
tantos benefícios trouxe para as crianças que por ela passam.
A
fatalidade porém, veio a atingir em uma fase de franco progresso para o
Instituto e, na noite de 12 de março de 1958, quando voltava de uma aula no
Recife, dirigindo uma bicicleta a motor, o Professor Barros Lins foi atingido
por um veículo não identificado que o atirou fora da estrada, na Avenida
Correia de Brito, próximo ao Matadouro de Peixinhos, Olinda. Nenhum amigo ou
conhecido assistiu os seus últimos instantes de vida. José de Barros Lins que
sempre viveu cercado do carinho de sua esposa, filhos e protegidos,.
Desencarnou no SAMDU em Recife, após às 22 horas daquela noite fatídica e,
somente no dia seguinte a notícia foi divulgada.
Causou
um verdadeiro abalo a morte de José de Barros Lins. Pessoas que não o conheciam
e que apenas sabiam o seu nome e conheciam a extensão do seu trabalho, ficaram
emocionadas com o seu inesperado desaparecimento com 53 anos de idade.
A
vida do Orfanato estava bastante ligada a de José de Barros Lins e o seu
desencarne abriu uma grande lacuna no seio da família espírita Pernambucana.
* Texto anônimo encontrado entre
documentos da instituição que, pela sua importância histórico-bibliográfico,
resolvemos reproduzir e publicar. A Direção.
CECI COSTA
Antônio Lucena*
Mais
conhecida por “Ceci Costa”, Argemira de Oliveira Costa era natural de São João
dos Pombos, Pernambuco, onde nasceu a 12 de novembro de 1890. Foram seus pais
Ostemio Orlando de Oliveira e D. Maria Mattos de Oliveira. Foi criada pelos
avós maternos na cidade de Olinda, onde realizou o curso primário. Casou-se aos
20 anos de idade , em 1910, com Agripino Theófilo da Costa, sendo pais de
numerosa prole, quatorze filhos dos quais criaram-se dez.
Desde
pequenina foi chamada Ceci, com o casamento adotou o sobrenome Costa do marido.
Era católica praticante, cumprindo religiosamente todos os preceitos da Igreja.
Pouco depois de casada, em reunião familiar, começou com uma brincadeira para
ver quem pestanejaria primeiro; em dado momento ela entrou em transe mediúnico,
sob o olhar de Euclides Pereira da Costa, irmão do seu esposo. A partir desse
fato, por curiosidade, pois ninguém conhecia o Espiritismo, repetiu-se a
brincadeira várias vezes, até que se identificou como uma entidade espiritual
que deu o nome de Bittencourt Sampaio, dizendo-se seu Guia e aconselhando que
todos estudassem os livros de Allan Kardec, estabelecendo para esse fim, dia e
horário determinados, uma vez por semana e mais que Ceci Costa teria uma grande
tarefa a cumprir como médium, nas fileiras do Espiritismo.
No dia imediato, Euclides dói a “Livraria Ramiro Costa”, que é uma das
mais antigas do Recife, e adquiriu a coleção dos livros indicados pelo Espírito
comunicante, iniciando-se assim no lar de Ceci e Agripino o aprendizado da
Doutrina, com o estudo de “O Evangelho Segundo o Espiritismo” e demais livros
da Codificação kardequiana, instruídos pelo bondoso Amigo Espiritual
Bittencourt Sampaio.
De início Ceci Costa relutou muito, em virtude do combate ostensivo da
Igreja Católica ao Espiritismo. Tempos depois Euclides foi convidado e passou a
freqüentar o Centro Espírita “Regeneração”, que logo em seguida tomou a
denominação de Federação Espírita Pernambucana e da qual foi ele o Vice-Presidente
da primeira diretoria constituída.
A esse tempo em Ceci Costa desabrochava
diversas faculdades mediúnicas, e ela, embora com alguma relutância, passou
também a freqüentar a Federação. Vencida pela realidade dos fatos, iniciou
trabalho apostolar no seio da Doutrina Espírita. Corria o ano de 1914 e sua
mediunidade aflorava exuberantemente: psicofonia, psicografia, audição,
vidência, dupla-vista, desdobramento, premonição, curas e tantas outras.
Ao tomar contato com o trabalho ativo da
Doutrina, encheu-se de amor e senso de responsabilidade, cumprindo gostosamente
todas as todas as tarefas a ela confiadas. Sua palavra evangelizada na tribuna,
enternecia a todos os corações.
..........curador, atraia verdadeira multidão de
doentes e necessitados de todos os matizes, dividindo na Federação, a tarefa
com um outro médium extraordinário, surgido na mesma época em Recife, chamado
de João Bedor.
O
espírito de sacrifício de Ceci Costa foi admirável. Sua condição humilde e de
mãe de família numerosa, nunca foi obstáculo para deixar de cumprir a
humanitária tarefa a que se propusera realizar, socorrendo os menos afortunados
e sofredores. Sua fama de médium curador transpôs as fronteiras de Pernambuco,
para todo o Nordeste e outras partes do País. Pessoas doentes de toda parte
acorriam a Federação Espírita Pernambucana em busca de uma consulta, de um
conselho, da cura para seus males. A correspondência era volumosa, vinda de
todo o Brasil e até do Exterior.
No auge de sua tarefa mediúnica Ceci Costa retornou ao Plano Espiritual
inesperadamente, ainda muito moça, dois dias após ter completado 38 anos de
idade, na data de 14 de novembro de 1928, em decorrência de uma hemorragia
interna provocada no parto de seu décimo quarto filho. A sua desencarnação
causou verdadeira consternação entre os parentes e amigos, muitos
principalmente entre as criaturas por elas socorridas.
Despediu-se
assim do convívio material, depois de cumprir grandiosa missão como mãe de
família carinhosa e mensageira do Bem, nas fileiras dos trabalhadores de Jesus.
(*) In artigo publicado na Coluna Síntese Biográfica de
Vultos do Espiritismo, periódico A Caminho da Luz. Órgão de Divulgação do
Espiritismo. Ano VI - João Pessoa -
Paraíba. Junho/Julho 1982 – Nº 74/75.